quinta-feira, 31 de maio de 2012

O terremoto.

Ela acordou em meio a um terremoto, tudo estava caindo, e ela não pode salvar muita coisa. De todas as coisas que sobraram, ela decidiu salvar algumas cicatrizes de antigas batalhas, um conjunto de novas feridas, alguns sonhos fragmentados, alguns pesadelos que a atormentavam.
Ela salvou um coração ao pedaços, sentimentos conturbados e livros usados. Salvou alguns amigos, algumas unhas roídas e um par de meias que a aquecia.
Salvou também alumas lágrimas que caíam em seu rosto, um pedaço da parede que caía, algumas palavras doces e outras amargas.
Salvou um sorriso, uma cara de dor, um bichinho de pelúcia, uma escova de dentes e uma vida pela frente.
Ela resolveu deixar que todas as paredes caíssem e levassem com elas as fotos que não foram tiradas, os rabiscos que não foram feitos, as flores que não chegaram a florescer, os cobertores que não a protegiam do  frio, as decepções previsíveis, os medos de criança, as histórias sem fim, os fins sem começo, os problemas inventados, e um velho espelho que insistia em lhe dizer que ela não seria capaz.
Ela deixou que o terremoto levasse o que nunca deveria ter feito parte daquela cena e salvou o que realmente importava. 
Ela deixou que o terremoto a salvasse.

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