domingo, 8 de julho de 2012

A dança.

Ele estava ali, no canto da sala, a observando. Ela estava dançando e nem tinha notado a presença daquele homem. Ela rodopiava, saltava, gastava a sapatilha, e ele a observava.
Ela estava distraída, em seu momento de alegria, sentia-se pura e leve, e ele a olhava, mas ela nem percebia.
Ela dançava com os cabelos rebeldes soltando-se do coque em sua cabeça, a saia voando, o collant marcando as linhas de seu corpo de menina, o rosto sério, os olhos repletos de sonhos, e ele a observava.
Ela saltava como quem tenta alcançar as estrelas, rodava mas não caía, estava séria, mas não estava brava. Seus movimentos delicados escondiam a força que ela fazia para ficar na ponta dos pés, os cabelos cada vez mais soltos, e ela cada vez mais distraída.
Ele continuava lá, a observando. Seus olhos escuros e profundos acompanhavam cada passo que ela dava, e ele queria entender de onde vinha aquela criatura que dançava como uma menina, mas era encantadora como uma mulher. Ela girava, e não ficava tonta, mas ele tremia toda vez que ela movia os pés.
A música acabou, e ela notou a presença dele, sentiu-se assustada e envergonhada, e queria saber quem era o homem que a observava. Ela teve vontade de gritar, mas tudo que conseguiu fazer foi voltar a dançar. Mesmo sem música, ela se movia como uma bailarina.
Ela queria parar, e pedir para que aquele homem saísse dali, mas sua boca não era capaz de pronunciar aquilo, e ela só conseguia continuar aquela dança.
Ele continuou a observá-la, mas ela já não dançava mais como uma menina encantadora, dançava como uma menina assustada, uma menina medrosa, com olhos dizendo que ela só desejava fugir dali.
Ela não o conhecia, mas ele sabia quem era aquela menina na ponta dos pés a muito tempo, desde o começo daquela música que já havia acabado.
"É ela", pensava ele. "Quem é ele?", pensava ela.

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