Aquela que eu chamo de eu.

É só mais uma noite, pensei comigo mesma. Você ainda estava ao meu lado na cama, os lençóis estavam gelados e os cobertores de nada adiantavam.
Levantei-me e fui ao banheiro, precisava olhar mais uma vez para aquela pessoa no espelho que respondia por culpado a todos os erros cometidos em minha vida. Ela me fitava com seus olhos marrons, dirigia-me aquele olhar que só ela sabia o quanto me afetava. Aquilo me cortava por dentro, e ela só ela sabia o motivo.
Eu não tinha mais forças para sustentar aquele olhar, mas não havia outra escolha. Eu fitava aquela pessoa no espelho e rezava para que essa pessoa mudasse. Eu não queria mais ver aquilo que dizia me conhecer, eu não  queria que ela continuasse atormentando meus sonhos. Eu pedi para que ela me deixasse em paz, mas tudo que ela fez foi repetir minhas palavras e continuar me olhando. Eu gritei, implorei pra que ela fosse embora, mas ela também gritou e continuou me olhando. Eu chorei, e chorei, e chorei. E ela também chorava, e chorava e chorava.
Você apareceu do meu lado, e do lado dela, e como todas as noites me convenceu a deixa-la lá, dizendo que ela não me faria mal, que ela gostava de mim, e você também a convenceu a me deixar em paz, e assim voltamos para a cama, como em todas as outras noites.
O olhar daquela moça se foi por enquanto, mas eu sabia que ele voltaria a me fitar, e eu nada poderia fazer. Você voltaria a me salvar, me salvar da pessoa no espelho, aquela que me enlouquecia, aquela que eu chamo de eu.